sexta-feira, 19 de junho de 2009

EXPERIÊNCIA PRIMEIRA

A linguagem na ponta da língua,
Tão fácil de falar e de entender
A linguagem na superfície estrelada
sabe lá o que ela quer dizer?
(Drummond)

O primeiro encontro com os cursistas de Língua Portuguesa foi muito especial, à medida que os interesses foram consolidados pelo programa.
Na perspectiva oferecida pelo professor Maurício de que a contextualização dos assuntos deve ser dinamizada, o poema da epígrafe serviu de premissa para o trabalho desenvolvido durante a oficina. As palavras de Drummond são elucidadas no contexto do ensino da língua portuguesa à medida que vivemos um momento em que os falantes desta língua, usuários inatos permanente dela dizem não aprendê-la, não gostam, não entendem, revelando a tendência de certa desordem cultural.
A partir desta reflexão, brotaram as questões culturais e suas implicações no contexto escolar, discutindo sobre qual é nossa ideia de cultura, pois se associada à erudição e à educação, produz uma dicotomia à categoria popular. Chegamos a elucidação de que os conflitos culturais – popular e de elite – são correlatos a outros conflitos: raciais, econômicos, políticos e de classe. Também convergiram as ideias de que a partir da cultura popular é possível pensar alternativas para o Brasil, pois é um estoque inesgotável de conhecimentos, sabedorias e tecnologias. Para tanto, há necessidade de construir histórica e coletivamente a escola como espaço onde diferentes linguagens possam produzir um novo sujeito, apto a fazer do ensino um instrumento sustentador de valores e não embasada em currículos e pautas basicamente informativas, sem nexos mínimos de significação.
Para ilustrar este pensamento, foi apresentado o vídeo do Canal Brasil “Valorização da Cultura Brasileira” com renomado escritor Ariano Suassuna. Nele pode-se constatar a evidência de que para que uma nação chegue ao posto de grande potência, é inevitável que os cidadãos que nela vivem reconheçam seu valor cultural, econômico e linguístico.
Em uma análise do vídeo, foi possível perceber o quanto adverso ele mostra-se em relação aos estrangeirismos tecnológicos, econômicos e, principalmente, culturais. Por isso, levamos estas questões para a língua portuguesa, na qual se encontra uma confluência de verbetes advindos da língua inglesa. Foi consensual que a língua é o reflexo de fusões, basta observar sua história e que é inevitável sua chegada e permanência. Devemos apenas cuidar para incutir no aluno a valorização das palavras que existem em nosso idioma e não traduzi-las para o idioma inglês.
Outro ponto revisto dentro da questão cultural diz respeito ao uso do folclore em sala de aula. Para elucidar esta questão, foi apresentada a história do “Negrinho do pastoreio” contada pelo folclorista e historiador José Mauro Brant. A partir desta história, foram hipotetizadas algumas possíveis dinâmicas de aulas a serem aplicadas.
Esta contextualização serviu de suporte para as explanações a respeito das teorias propostas pelo Livro TP3 – Gêneros e Tipos textuais. Esta etapa da oficina foi pautada pela diferença entre gênero textual e tipologia textual, tendo com embasamento os teóricos Luis Antônio Marcuschi e Luiz Carlos Travaglia. Verificou-se a tendência em trabalhar com gêneros textuais em Marcuschi e com tipos textuais em Travaglia. Para elucidar esta teoria, foi proposta uma atividade de reconhecimento de gêneros e tipos, a partir da qual as professoras cursistas mostraram-se tendenciosas à teoria de Marcuschi, pois o uso de um gênero aproxima o aluno das situações originais de produção de textos não escolares (textos jornalísticos, científicos, literários, jurídicos, entre outros).
A etapa das atividades práticas ficou por conta da Unidade 10 do caderno TP3, em que cada seção foi dividida entre os grupos para que pudessem realizar as atividades. Neste momento, as professoras cursistas relembraram alguns aspectos referentes ao Gênero literário e não-literário, apontando dúvidas e considerações sobre as atividades. Mostraram-se críticas em relação à seleção dos textos e sua abordagem em sala de aula.
Numa visão conclusiva deste encontro, posso afirmar que atendeu significativamente às expectativas tanto das cursistas como minhas. Numa avaliação geral, segundo as cursistas, o Gestar, certamente, fará a diferença nas práticas do dia-a-dia, pois traz o professor para os estudos e através deles consegue resgatar aquelas atitudes e pensamentos que muitas vezes foram abafados pelo cotidiano.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

AULA INAUGURAL


Aula Inaugural

É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis como na guerra do Paraguai…
Mas eram bem falantes
E todos os seus gestos eram ritmados como num balé
Pela cadência dos metros homéricos.
Fora do ritmo, só há danação.
Fora da poesia, não há salvação.
A poesia é dança e a dança é alegria.
Dança, pois, teu desespero, dança
Tua miséria, teus arrebatamentos,
Teus júbilos
E, mesmo que temas imensamente a Deus,
Dança como David diante da Arca da Aliança.
Mesmo que temas imensamente a morte
Dança diante de tua cova.
Tece coroas de rimas…
Enquanto o poema não termina
A rima é como uma esperança
Que eternamente se renova.
A canção, a simples canção, é uma luz dentro da noite.(Sabem todas as almas perdidas…)
O solene canto é um archote nas trevas.(Sabem todas as almas perdidas…)
Dança, encantado dominador de monstros,
Tirano das esfinges,
Dança, Poeta.
E sob o aéreo, o implacável, o irresistível ritmo de teus pés,
Deixa rugir o Caos atônito…
MÁRIO QUINTANA

terça-feira, 16 de junho de 2009

MEMÓRIAS


"A maior parte da nossa memória está fora de nós, numa viração de chuva, num cheiro de quarto fechado ou num cheiro duma primeira labareda, em toda parte onde encontramos de nós mesmos o que a nossa inteligência desdenhara, por não lhe achar utilidade, a última, reserva do passado, a melhor, aquela que, quando todas as nossas lágrimas parecem estancadas, ainda sabe fazer-nos chorar. Fora de nós? Em nós, para melhor dizer, mas oculta a nossos próprios olhares, num esquecimento mais ou menos prolongado."
Marcel Proust