quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Mais um encontro

Iniciamos os trabalhos do encontro do dia 12 de Agosto, à noite, com a mensagem “Expressões Idiomáticas”, somente como um warm-up, isto por acreditar que ao dar início aos encontros, devemos provocar um clima e ambientes agradáveis e descontraídos.
Num segundo momento, os professores relataram a aplicação das atividades e, em especial, a atividades sugeridas no quadro “Avançando na prática”. A cada explanação, cresce a certeza que estamos no caminho certo em busca de uma educação voltada para os anseios de nossa comunidade escolar.
Após estes apontamentos, introduzimos nosso estudo do TP4 – Leitura e Processos de Escrita I com a temática “Alfabetização e Letramento”. Foi lançada a questão sobre o que são estes conceitos e qual é a relação entre eles. Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa “literacy” que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita. Alfabetizar letrando é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, assim o educando deve ser alfabetizado e letrado. A linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma ativa e grupal do ponto de vista cultural e social.
Seguindo este raciocínio, o grupo obteve clareza em definir que a alfabetização deve se desenvolver em um contexto de letramento como início da aprendizagem da escrita, como desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes de caráter prático em relação a esse aprendizado; entendendo que a alfabetização e letramento devem ter tratamento metodológico diferente e com isso alcançar o sucesso no ensino aprendizagem da língua escrita, falada e contextualizada nas nossas escolas.
O vídeo “O que é letramento?” de Kate Chong ajudou-nos a compreender melhor estas definições, e como complemento a seguinte ideia:
Ler o mundo sempre precede ler a palavra,
e ler a palavra implica continuamente ler o mundo...
Neste caminho, entretanto, nós podemos ir mais longe e dizer que ler a palavra não precede meramente o ato de ler o mundo, mas de uma certa forma de inscrevê-lo
ou reescrevê-lo, que é de transformá-lo por significados de consciência,
trabalho prático. Para mim, esse movimento é central para o processo de Letramento.
(FREIRE; MACEDO, 1987, p. 35)
Para elucidar e trazer estas questões às luzes da sala de aula, propus uma análise de textos de crianças em processo de alfabetização através de uma análise sob a ótica de João Wanderley Geraldi:
Segundo o ponto de vista bakhtiniano, toda a enunciação é apenas uma fração de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta”. Como situar nesta corrente os textos escritos por crianças em seus primeiros anos de escolaridade? Excluí-los desta corrente significaria assumir que o esforço da criança para escrever produz o perverso efeito de uma desterritorialização enunciativa: enquanto falantes, as crianças participariam do processo contínuo de produção de enunciados; enquanto aprendizes da escrita, face ao estranhamento próprio dos convívios iniciais,produziriam textos excluídos deste mesmo fluxo, como se fossem estrangeiros diante das palavras de sua própria língua.
João Wanderley Geraldi - Artigo: PALAVRAS ESCRITAS, INDÍCIOS DE PALAVRAS DITAS
Utilizamos os seguintes textos (feitos por crianças) para reflexão:
Texto 1: A casa é bonita.
A casa é do menino.
A casa é do pai.
A casa tem uma sala.
A casa é amarela.

Texto 2: Era uma vez umpionho queroia ocabelo
Dai um emninopinheto dapasou um umenino lipo
Enei pionho ai pasou. Daí omenino pegoupionho da amunhér pegoupionho
Dai todo mundosaiogritãdo todomundo pegou pionho
Di até sofinho begoupionho.

Ao analisarmos ambos os textos, verificamos que o primeiro texto não representa um produto de uma reflexão, tratando-se de fragmentos de informações desarticuladas, nasce, o que Geraldi nomeou como “aluno-função”. No segundo texto, há presença de uma história, ainda que haja prejuízos ortográficos, o aluno consegue articular sua ideia e estabelecer uma interlocução com um possível leitor. Este aluno foi reprovado e repetiu a primeira série, enquanto o autor do primeiro texto foi aprovado.
Embora tenhamos feito estas reflexões sobre alunos de séries iniciais e o grupo de professores do Gestar seja de área, levamos em consideração que ainda durante a 5ª série recebemos alunos com dificuldades semelhantes e por, muitas vezes, fazermos o trabalho meramente de alfabetização, enquanto o que deveria acontecer é um processo mais intenso de letramento. Isto serviu para concluirmos que, embora possamos verificar problemas ortográficos no segundo texto, este não apresenta artificialidade, pois há efetivamente a presença de um sujeito, e isto garante que o professor tenha maior sucesso na tentativa de construir e implementar o letramento.
Sabemos que letramento está convencionado à leitura, portanto analisamos o vídeo da TV escola: “Como as crianças aprendem a gostar de ler”. Neste vídeo, contamos com o depoimento da renomada Ana Maria Machado, a qual propõe que se ofereçam múltiplas possibilidades de o aluno conhecer os diversos gêneros para que ele possa encontrar o adequado às suas preferências. A autora faz uma metáfora dizendo que: “Ler e namorar têm semelhanças. A gente só aprende a gostar de namorar quando encontra o parceiro certo, então da mesma forma aprendemos a gostar de ler quando encontramos o “parceiro” certo.”
Para explicitar esta metáfora, cada professor fez uma explanação de sua descoberta da leitura e sua relação com ela. Apresentei a eles alguns gêneros literários, lendo alguns fragmentos, e eles identificaram o qual possuía maior relação com eles próprios. Como sugestão de aula, propus que levasses essa atividade para a sala de aula, para que os alunos pudessem se descobrir na leitura. Nesta perspectiva, fizemos a leitura dos textos de Patativa de Assaré e Paulo Freire, ambos encontrado no TP4, páginas 18 e 19, sobre como descobriam o prazer pela leitura, sempre fazendo reflexões acerca do assunto.
A questão da escrita também foi abordada em consonância com as reflexões acerca da leitura. Lancei a questão: “E como as crianças aprendem a gostar de escrever?” Refletimos sobre a imagem projetada (em anexo no Power Point), e entendemos que há que provocar no aluno o entusiasmo em escrever através de temáticas interessantes a ele. Vários foram os exemplos que os professores trouxeram, explanando sobre como fazem este processo em sua realidade escolar.
Na sequência, foi realizada a atividade sugerida na TP4, na Seção 2, páginas 32 a 34. E, para intensificar os estudos sobre leitura e escrita, a unidade 14 foi trabalhada pelos professores, em grupo. Cada grupo realizou uma análise das seções e socializou com os demais grupos. Também aproveitamos a atividade para fins de sugestão de aplicação em sala de aula.
Após a conclusão das atividades, solicitei ao professores que fizessem uma avaliação do curso e sua aplicabilidade. Todos demonstraram-se satisfeitos com os resultados e, especialmente, neste encontro, a professora Nayara Spagnolo manifestou-se dizendo que os alunos estão adorando as atividades do GESTAR, solicitando a ela que façam sempre “essas atividades diferentes”. A professora Maria de Lurdes, a qual tem perfil de professora apegada à gramática, relatou estar modificando sua prática e que os alunos estão mais participativos entusiasmados.
A cada encontro, posso sentir que os objetivos do curso estão sendo afirmados, principalmente porque o grupo de professores está disposto a fazer a diferença.

Nenhum comentário:

Postar um comentário